Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente do Regional Sul 1 da CNBB
No próximo mês de outubro, em Roma, será celebrada a 13ª Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema: “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Participarão representantes escolhidos por todas as conferências episcopais do mundo, além de convidados, entre presbíteros, leigos, religiosos, diáconos e outros grupos e organizações eclesiais. O Papa, que convoca e preside ao Sínodo, receberá, depois, o fruto dos trabalhos sinodais e, como de costume, fará uma exortação apostólica pós-sinodal sobre o tema tratado.
A assembleia do Sínodo irá de 7 a 28 de outubro; durante a sua realização, será feita a abertura do cinquentenário do Concílio Vaticano 2º e do vigésimo aniversário do Catecismo da Igreja Católica; e o Papa abrirá a celebração do Ano da Fé, que se estenderá até novembro de 2013. Além disso, no Domingo das Missões, dia 21 de outubro, serão canonizados sete novos santos, vários dos quais foram grandes missionários. Todos esses eventos estão relacionados entre si e nos fazem compreender melhor a importância e o alcance do tema escolhido para o próximo Sínodo.
A missão principal da Igreja é o anúncio do Evangelho; não como mensagem estranha a nós, que poderíamos proclamar mesmo sem que ela nada significasse para nossa vida pessoal. Anunciamos a Palavra da Vida, na qual cremos firmemente; cremos e, por isso, proclamamos e testemunhamos. Eis porque será comemorado o Ano da Fé: para nós reafirmarmos naquilo que a Igreja recebeu dos apóstolos e transmitiu fielmente até hoje; no Batismo, recebemos a fé da Igreja como um dom: “esta é a fé da Igreja, que alegremente professamos, razão da nossa esperança em Cristo Jesus, Nosso Senhor”. Infelizmente, ao longo da vida, nem sempre tornamos “nossa” essa fé da Igreja, mediante um ato de fé pessoal e consciente.
O papa João 23, ao convocar o Concílio Ecumênico Vaticano 2º, quis que o primeiro objetivo desse Concílio fosse aprofundar e renovar a fé da Igreja Católica; não pensava na revisão das verdades da fé, nem na proclamação de novas verdades, mas numa tomada de consciência renovada e na proclamação generosa da fé dentro da cultura mudada do nosso tempo. É bem a isso nos está convocando agora o papa Bento 16, com o Ano da Fé; e nos indica a retomada do Concílio, como grande referência para a fé da Igreja e nossa vida cristã pessoal e comunitária. Onde encontrar a explicação autêntica e oficial da nossa fé? Muitos livros e textos poderiam ser úteis, mas o livro da explicação oficial da fé e da vida cristã e eclesial é o Catecismo da Igreja Católica. Eis porque o devemos retomar e estudar com carinho e desejo de aprender, comungando na mesma fé da Igreja.
A transmissão da fé é a questão prioritária nessa mudança de época; a próxima geração vai crer e continuar a cultivar a vida eclesial se nós, agora, lhe passarmos o patrimônio da herança apostólica e de tradição viva da Igreja; por isso, a primeira coisa necessária é a renovação da nossa própria profissão de fé; em seguida, vem a transmissão da fé à nova geração, de muitos modos: pelo casamento religioso e a constituição de famílias cristãs; pelo Batismo dos filhos e sua introdução na vida cristã e eclesial; pela ação missionária, feita de muitos modos, mas sem deixar de lado o testemunho coerente e o anúncio explícito da fé às pessoas do nosso tempo e de nosso convívio. Transmitir a fé, portanto, empenha a todos os membros da Igreja e nos desafia a sermos discípulos missionários de Jesus Cristo de forma corajosa e generosa, não obstante às dificuldades próprias do nosso tempo. Deus não deixará de fazer produzir frutos a todo esse esforço.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 03.07.2012
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