Por D. Demétrio Valentini, bispo de Jales
O ano de 2012 está chegando ao fim. Seria o momento oportuno para recordar os seus principais acontecimentos. Mas não é esta a intenção.
Ao longo de 2012 foi lembrada, com insistência, uma data, através da qual dá para captar o recado especial que este ano queria nos dar.
Esta data foi o dia 11 de outubro. Em princípio, ela merecia o devido destaque, por lembrar os 50 anos da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano Segundo.
Mas o que chamou a atenção foi a forte insistência da Igreja, em apontar para aquele dia, fazendo dele não só uma recordação histórica, mas o ponto de referência para balizar o seu posicionamento diante dos novos desafios que ela tem para a frente.
De tal modo que, ao redor do dia 11 de outubro, foi criada uma forte expectativa. A esta data ficaram vinculadas algumas iniciativas que mostravam o amplo envolvimento da Igreja com o referido Concílio Ecumênico.
Foi realizado, por exemplo, ao longo do mês de outubro, o Sínodo sobre a Nova Evangelização e sobre a Transmissão da Fé. Mas sobretudo, foi inaugurado no dia 11 de outubro o Ano da Fé, com uma proposta de celebração muito envolvente ao longo de 2013.
A insistência em vincular a agenda de agora com uma data do passado, parece mostrar com evidência a grande validade deste Concílio, mesmo que já tenham passado 50 anos de sua abertura em 1962.
Mas afirmar sua validade não significa apostar na implementação dos seus objetivos. Depende de como nos posicionamos agora, sobretudo, diante das propostas de renovação eclesial, formuladas pelo Concílio, mas deixadas em aberto, para serem implementadas depois, gradualmente, num amplo processo que agora pode estar perdendo força.
De tal modo que a celebração dos 50 anos de sua abertura revelou a grandeza do Vaticano Segundo, que se mostrou muito generoso nas suas intenções. Mas mostrou também que ele foi muito tímido na efetivação de mudanças estratégicas, que fortaleceriam a efetividade do processo de renovação eclesial.
De tal modo que dá para concluir este ano de 2012, com uma tarefa bem cumprida: foi construído um amplo consenso sobre a importância do Vaticano II.
Ao mesmo tempo, este ano nos deixa com uma clara inquietação: o processo eclesial em andamento, ele favorece a aplicação do Concílio, ou conspira contra as suas intenções fundamentais?
Seria conveniente lembrar as grandes intuições pastorais do Concílio, para conferir qual a dinâmica que agora as caracteriza. Por exemplo, qual a aplicação prática da Colegialidade Episcopal para garantir uma tranqüila postura de unidade,e ao mesmo tempo o suporte seguro para uma salutar descentralização eclesial.
E assim daria para lembrar a importância das “Igrejas Locais” como referência eclesial indispensável para todos os que querem participar da vida da Igreja. Igualmente a importância imprescindível das comunidades eclesiais, como encarnação concreta da vida de Igreja.
Em outras palavras, estamos avançando, ou retrocedendo, na aplicação do Vaticano II? Algumas iniciativas dão a clara impressão de marcha a ré.
Para uma viagem tranqüila, é importante que todas as marchas possam ser bem engrenadas. Também a marcha à ré, cuja utilização às vezes se torna imprescindível para garantir que o veículo siga em frente. O problemático seria engatar esta marcha para voltar atrás e desistir do rumo traçado.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Donde vem a paz?
Por Dom Pedro Carlos Cipolini, Bispo de Amparo (SP)
Glória a Deus nas alturas e paz na terra às pessoas de boa vontade! Foi este o anúncio de Natal que ouvimos do Evangelho de Lucas (cap.1,14). Este anúncio natalino preanuncia outro anúncio, feito por Jesus quando declara que são bem aventurados os que constroem a paz, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9). No primeiro dia do ano é celebrado o dia da paz ou da “confraternização universal”.
Dedicar um dia para comemorar a paz e a confraternização, é dedicar um dia para comemorar o sonho de Deus. Sonho que coincide com o sonho e os anseios mais íntimos do coração humano. Todos desejamos a paz e por ela suspiramos ardentemente. Até mesmo os que fazem a guerra. Estes imaginam que a melhor maneira de conseguir a paz é se prevenir através da guerra: guerra preventiva como a chama a administração Busch.
A paz que os anjos anunciaram, a paz no conceito cristão não designa simples ausência de conflito ou o fim de um estado de guerra. Para o cristianismo a paz faz memória da criação, da harmonia primeira descrita na Bíblia. No Paraíso havia a glória da convivência pacífica entre a Criação, as Criaturas e o Criador. Paz é a inocência original, onde o homem vive em harmonia consigo mesmo, com Deus, com os outros e com a natureza. Para o cristianismo a paz não é um estado passageiro entre duas guerras.
Mas se todos querem a paz, por que temos guerra? Não nos esqueçamos que toda violência, e estamos envoltos nela, é uma forma de guerra. O novo século que estamos vivendo deveria ser mais pacífico que o século passado, pois com a globalização, a guerra seria um suicídio, dado a eficiência das armas. Porém, os motivos para a guerra não faltam. Estamos sempre em guerra.
De onde nos pode vir a paz? Esta é a pergunta que todos se fazem. Jesus certa vez chorou sobre Jerusalém e disse: “Se reconhecesses aquele que pode te conduzir à paz. Mas agora está oculto a teus olhos!”(Lc 19,42). É Jesus que pode nos conduzir à paz. Ele é a nossa paz, como escreve o apóstolo Paulo aos Efésios (2,14). Porém muitos ainda não o vêem, não ouvem sua voz.
A liturgia da Igreja Católica celebra junto com o dia da paz universal, Maria Mãe de Deus. Comtemplamos a figura desta mulher que tem nos braços o menino que nos traz a paz. Somos agradecidos a ela porque aceitou de Deus a missão de dar a luz a este filho. Agradecemos porque acolheu a vida, embora o nascimento de Jesus foi envolto em dificuldades para Maria e José. E concluímos que a paz somente pode brotar do amor. Um amor que exige de nós a renúncia ao egoísmo.
A mensagem central de Jesus é o Reino de Deus, Deus sendo Pai de todos e todos vivendo como irmãos: fraternidade universal! Viver no amor é uma decisão pessoal e um compromisso que cada um deve assumir. A pessoa que decidiu fazer de sua vida um ato de amor, não busca primariamente o prazer ou o aplauso. Seu desejo básico é se tornar um ser humano que ama e, portanto, um ser humano realizado, potencializado para transmitir a paz.
Que a paz esteja conosco neste ano que se inicia e que nós saibamos ser construtores de paz!
Glória a Deus nas alturas e paz na terra às pessoas de boa vontade! Foi este o anúncio de Natal que ouvimos do Evangelho de Lucas (cap.1,14). Este anúncio natalino preanuncia outro anúncio, feito por Jesus quando declara que são bem aventurados os que constroem a paz, porque serão chamados filhos de Deus (Mt 5,9). No primeiro dia do ano é celebrado o dia da paz ou da “confraternização universal”.
Dedicar um dia para comemorar a paz e a confraternização, é dedicar um dia para comemorar o sonho de Deus. Sonho que coincide com o sonho e os anseios mais íntimos do coração humano. Todos desejamos a paz e por ela suspiramos ardentemente. Até mesmo os que fazem a guerra. Estes imaginam que a melhor maneira de conseguir a paz é se prevenir através da guerra: guerra preventiva como a chama a administração Busch.
A paz que os anjos anunciaram, a paz no conceito cristão não designa simples ausência de conflito ou o fim de um estado de guerra. Para o cristianismo a paz faz memória da criação, da harmonia primeira descrita na Bíblia. No Paraíso havia a glória da convivência pacífica entre a Criação, as Criaturas e o Criador. Paz é a inocência original, onde o homem vive em harmonia consigo mesmo, com Deus, com os outros e com a natureza. Para o cristianismo a paz não é um estado passageiro entre duas guerras.
Mas se todos querem a paz, por que temos guerra? Não nos esqueçamos que toda violência, e estamos envoltos nela, é uma forma de guerra. O novo século que estamos vivendo deveria ser mais pacífico que o século passado, pois com a globalização, a guerra seria um suicídio, dado a eficiência das armas. Porém, os motivos para a guerra não faltam. Estamos sempre em guerra.
De onde nos pode vir a paz? Esta é a pergunta que todos se fazem. Jesus certa vez chorou sobre Jerusalém e disse: “Se reconhecesses aquele que pode te conduzir à paz. Mas agora está oculto a teus olhos!”(Lc 19,42). É Jesus que pode nos conduzir à paz. Ele é a nossa paz, como escreve o apóstolo Paulo aos Efésios (2,14). Porém muitos ainda não o vêem, não ouvem sua voz.
A liturgia da Igreja Católica celebra junto com o dia da paz universal, Maria Mãe de Deus. Comtemplamos a figura desta mulher que tem nos braços o menino que nos traz a paz. Somos agradecidos a ela porque aceitou de Deus a missão de dar a luz a este filho. Agradecemos porque acolheu a vida, embora o nascimento de Jesus foi envolto em dificuldades para Maria e José. E concluímos que a paz somente pode brotar do amor. Um amor que exige de nós a renúncia ao egoísmo.
A mensagem central de Jesus é o Reino de Deus, Deus sendo Pai de todos e todos vivendo como irmãos: fraternidade universal! Viver no amor é uma decisão pessoal e um compromisso que cada um deve assumir. A pessoa que decidiu fazer de sua vida um ato de amor, não busca primariamente o prazer ou o aplauso. Seu desejo básico é se tornar um ser humano que ama e, portanto, um ser humano realizado, potencializado para transmitir a paz.
Que a paz esteja conosco neste ano que se inicia e que nós saibamos ser construtores de paz!
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Natal no Ano da Fé
Mensagem de Natal e Ano Novo da Presidêncida do Regional Sul 1
A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) - Regional Sul 1 (São Paulo) felicita a todos por meio de uma mensagem, divulgada nesta segunda-feira (17). Na mensagem, eles expressam a alegria de poder celebrar o Natal no Ano da Fé.
NATAL NO ANO DA FÉ
O Natal celebra um grande Mistério da nossa fé:
O Filho de Deus se fez homem
para que nós tivéssemos em comunhão com Deus!
Nesta “maravilhosa troca de dons entre o céu e a terra”,
Deus nada perde, mas o homem tem tudo a ganhar!
A vinda de Deus ao nosso encontro é o motivo da nossa fé
e do compromisso alegre com o anúncio da Boa Nova!
Feliz e Santo Natal do Senhor!
Feliz e abençoado Ano Novo!
Cardeal Dom Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Presidente do Regional Sul 1 da CNBB
Dom Moacir Silva
Bispo de São José dos Campos
Vice-Presidente
Dom Tarcísio Scaramussa
Bispo Auxiliar de São Paulo
Secretário geral
Presidente do Regional Sul 1 da CNBB
Dom Moacir Silva
Bispo de São José dos Campos
Vice-Presidente
Dom Tarcísio Scaramussa
Bispo Auxiliar de São Paulo
Secretário geral
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Pascom define atividades para 2013
Já estão definidas as datas das atividades da Pastoral da Comunicação para o próximo ano
Na última reunião da Pastoral da Comunicação do Regional Sul 1 da CNBB, de 2012, realizada, nesta quinta-feira (13), em São Paulo, os agentes definiram as datas para o próximo ano. De acordo com o calendário, o 19º Encontro Regional de Comunicação deverá acontecer no dia 22, 23 e 24 de novembro, em local ainda a ser definido.
Entre as atividades, estão as reuniões que vão acontecer em São Paulo nosdias 25 de fevereiro, 29 de abril, 29 de agosto, 7 de outubro, 4 de novembro e 12 de dezembro.
Segundo a coordenadora da Pascom, irmã Maria Celeste Ghislandi, está confirmada para o dia 20 de junho, uma formação para a coordenação e representantes das sub-regiões, com o tema “Espiritualidade do comunicador”. A finalidade é proporcionar uma formação de espiritualidade, promovendo a comunhão entre a equipe, que durante o ano, se encontra apenas para reuniões de trabalho.
Ainda segundo a coordenadora, os agentes foram informados sobre algumas datas de âmbito nacional como o Encontro de Assessoria de Imprensa da CNBB, marcado para março em Brasília (DF); 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais que será celebrado nas paróquias e dioceses no dia 12 de maio, no Domingo da Ascensão do Senhor; Encontro Nacional dos Bispos Referenciais e coordenadores da Pascom dos Regionais, de 23 a 25 de agosto em Brasília (DF), e o 8º Mutirão Brasileiro de Comunicação, de 27 de outubro a 1º de novembro em Natal (RN).
Na ocasião também os agentes avaliaram o 18º Encontro Regional de Comunicação, realizado em novembro, na Arquidiocese de São Paulo, bem como as ações da Pascom, em 2012. De acordo com as avaliações respondidas pelos participantes, o encontro atingiu seu objetivo de proporcionar conteúdo de qualidade para quem está iniciando e para a reciclagem dos que estão há mais tempo atuando nesta pastoral.
A reunião foi aberta pelo Bispo Referencial Dom José Moreira de Melo, contou com a presença da coordenadora irmã Maria Celeste Ghislandi e dos Representantes das sub-regiões. As atividades e informações sobre a Pascom podem ser acompanhadas na rede social: facebook.com/PascomSul1
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Papa Bento XVI divulga mensagem pelo Dia Mundial da Paz
Celebrado no dia 1º de janeiro, o Dia Mundial da Paz é uma data que foi criada para que todas as pessoas, cristãs e não cristãs, se unissem em prol da paz no planeta. Há 45 anos, o papa Paulo VI, divulgou uma mensagem, em 8 de dezembro, para que a data fosse celebrada sempre no primeiro dia do ano civil (1º de janeiro), a partir do ano de 1968.
Seguindo a tradição, a mensagem do sumo pontífice, para o Dia Mundial da Paz 2013, foi apresentada em coletiva de imprensa, hoje, 14 de dezembro, na Sala de Imprensa do Vaticano.
Leia a mensagem:
Dia Mundial da Paz
1º de janeiro de 2013
Bem-aventurados os obreiros da paz
1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.
À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.
Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.
Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.
E no entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.
Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem--aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).
A bem-aventurança evangélica
2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um género literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingénuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.
A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjectivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz » (v. 11).
A paz: dom de Deus e obra do homem
3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.
Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.
A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.
A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter « um coração novo e um espírito novo » (cf. Ez 36, 26).
Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal factor do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem--aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.
A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.
Obreiros da paz são aqueles que amam,defendem e promovem a vida na sua integridade
4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.
Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se dêem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.
Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.
Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a acção da Igreja para os promover não tem carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal acção é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.
Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objecção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.
Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como liberdade de – por exemplo, de obrigações e coacções quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como liberdade para: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar actividades educativas, de beneficência e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e actuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.
O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.
E, entre os direitos e deveres sociais actualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue « a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção ».4 Para se realizar este ambicioso objectivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.
Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia
5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspectiva duma vida boa, duma conduta recta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.
Para sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspectiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. Concretamente na actividade económica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a actividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.
No âmbito econômico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira. O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias--primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional. Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objectivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua actividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e económico.
Educação para uma cultura da paz:o papel da família e das instituições
6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.
Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projecto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino. A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor.
Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes. A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.
Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolásticas e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as actividades económicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética. O mundo actual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.
Uma pedagogia do obreiro da paz
7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem comum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar »,7 de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.
Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens. Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez pedimos a Deus, juntamente com o Beato João XXIII, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua acção, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.
Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.
Vaticano, 8 de Dezembro de 2012.
*Tradução Canção Nova.
Seguindo a tradição, a mensagem do sumo pontífice, para o Dia Mundial da Paz 2013, foi apresentada em coletiva de imprensa, hoje, 14 de dezembro, na Sala de Imprensa do Vaticano.
Leia a mensagem:
Dia Mundial da Paz
1º de janeiro de 2013
Bem-aventurados os obreiros da paz
1. Cada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações duma vida feliz e próspera.
À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima constatar como os cristãos, Povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos.
Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, e também por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo.
Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens.
E no entanto as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao dever-direito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus.
Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: «Bem--aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).
A bem-aventurança evangélica
2. As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5, 3-12; Lc 6, 20-23) são promessas. Com efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um género literário que traz sempre consigo uma boa nova, ou seja um evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem sobretudo no cumprimento duma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingénuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-Se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor duma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus.
A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teorico-práticos meramente subjectivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins, e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia duma moral totalmente autónoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência, fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, « o Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz » (v. 11).
A paz: dom de Deus e obra do homem
3. A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme à sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção duma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça.A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício.
Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz, são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigénito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas.
A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um «nós» comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir.
A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenómenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação dum mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31, 31-34), oferecendo-nos a possibilidade de ter « um coração novo e um espírito novo » (cf. Ez 36, 26).
Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro e principal factor do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2, 14; 2 Cor 5, 18). O obreiro da paz, segundo a bem--aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.
A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz.
Obreiros da paz são aqueles que amam,defendem e promovem a vida na sua integridade
4. Caminho para a consecução do bem comum e da paz é, antes de mais nada, o respeito pela vida humana, considerada na multiplicidade dos seus aspectos, a começar da concepção, passando pelo seu desenvolvimento até ao fim natural. Assim, os verdadeiros obreiros da paz são aqueles que amam, defendem e promovem a vida humana em todas as suas dimensões: pessoal, comunitária e transcendente. A vida em plenitude é o ápice da paz. Quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida.
Aqueles que não apreciam suficientemente o valor da vida humana, chegando a defender, por exemplo, a liberalização do aborto, talvez não se dêem conta de que assim estão a propor a prossecução duma paz ilusória. A fuga das responsabilidades, que deprecia a pessoa humana, e mais ainda o assassinato de um ser humano indefeso e inocente nunca poderão gerar felicidade nem a paz. Na verdade, como se pode pensar em realizar a paz, o desenvolvimento integral dos povos ou a própria salvaguarda do ambiente, sem estar tutelado o direito à vida dos mais frágeis, a começar pelos nascituros? Qualquer lesão à vida, de modo especial na sua origem, provoca inevitavelmente danos irreparáveis ao desenvolvimento, à paz, ao ambiente. Tão pouco é justo codificar ardilosamente falsos direitos ou opções que, baseados numa visão redutiva e relativista do ser humano e com o hábil recurso a expressões ambíguas tendentes a favorecer um suposto direito ao aborto e à eutanásia, ameaçam o direito fundamental à vida.
Também a estrutura natural do matrimónio, como união entre um homem e uma mulher, deve ser reconhecida e promovida contra as tentativas de a tornar, juridicamente, equivalente a formas radicalmente diversas de união que, na realidade, a prejudicam e contribuem para a sua desestabilização, obscurecendo o seu carácter peculiar e a sua insubstituível função social.
Estes princípios não são verdades de fé, nem uma mera derivação do direito à liberdade religiosa; mas estão inscritos na própria natureza humana – sendo reconhecíveis pela razão – e consequentemente comuns a toda a humanidade. Por conseguinte, a acção da Igreja para os promover não tem carácter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, independentemente da sua filiação religiosa. Tal acção é ainda mais necessária quando estes princípios são negados ou mal entendidos, porque isso constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma ferida grave infligida à justiça e à paz.
Por isso, uma importante colaboração para a paz é dada também pelos ordenamentos jurídicos e a administração da justiça quando reconhecem o direito ao uso do princípio da objecção de consciência face a leis e medidas governamentais que atentem contra a dignidade humana, como o aborto e a eutanásia.
Entre os direitos humanos basilares mesmo para a vida pacífica dos povos, conta-se o direito dos indivíduos e comunidades à liberdade religiosa. Neste momento histórico, torna-se cada vez mais importante que este direito seja promovido não só negativamente, como liberdade de – por exemplo, de obrigações e coacções quanto à liberdade de escolher a própria religião –, mas também positivamente, nas suas várias articulações, como liberdade para: por exemplo, para testemunhar a própria religião, anunciar e comunicar a sua doutrina; para realizar actividades educativas, de beneficência e de assistência que permitem aplicar os preceitos religiosos; para existir e actuar como organismos sociais, estruturados de acordo com os princípios doutrinais e as finalidades institucionais que lhe são próprias. Infelizmente vão-se multiplicando, mesmo em países de antiga tradição cristã, os episódios de intolerância religiosa, especialmente contra o cristianismo e aqueles que se limitam a usar os sinais identificadores da própria religião.
O obreiro da paz deve ter presente também que as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia insinuam, numa percentagem cada vez maior da opinião pública, a convicção de que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado e das redes de solidariedade da sociedade civil, bem como dos direitos e deveres sociais. Ora, há que considerar que estes direitos e deveres são fundamentais para a plena realização de outros, a começar pelos direitos civis e políticos.
E, entre os direitos e deveres sociais actualmente mais ameaçados, conta-se o direito ao trabalho. Isto é devido ao facto, que se verifica cada vez mais, de o trabalho e o justo reconhecimento do estatuto jurídico dos trabalhadores não serem adequadamente valorizados, porque o crescimento económico dependeria sobretudo da liberdade total dos mercados. Assim o trabalho é considerado uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros. A propósito disto, volto a afirmar que não só a dignidade do homem mas também razões económicas, sociais e políticas exigem que se continue « a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos, ou da sua manutenção ».4 Para se realizar este ambicioso objectivo, é condição preliminar uma renovada apreciação do trabalho, fundada em princípios éticos e valores espirituais, que revigore a sua concepção como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade. A um tal bem corresponde um dever e um direito, que exigem novas e ousadas políticas de trabalho para todos.
Construir o bem da paz através de um novo modelo de desenvolvimento e de economia
5. De vários lados se reconhece que, hoje, é necessário um novo modelo de desenvolvimento e também uma nova visão da economia. Quer um desenvolvimento integral, solidário e sustentável, quer o bem comum exigem uma justa escala de bens-valores, que é possível estruturar tendo Deus como referência suprema. Não basta ter à nossa disposição muitos meios e muitas oportunidades de escolha, mesmo apreciáveis; é que tanto os inúmeros bens em função do desenvolvimento como as oportunidades de escolha devem ser empregues de acordo com a perspectiva duma vida boa, duma conduta recta, que reconheça o primado da dimensão espiritual e o apelo à realização do bem comum. Caso contrário, perdem a sua justa valência, acabando por erguer novos ídolos.
Para sair da crise financeira e económica actual, que provoca um aumento das desigualdades, são necessárias pessoas, grupos, instituições que promovam a vida, favorecendo a criatividade humana para fazer da própria crise uma ocasião de discernimento e de um novo modelo económico. O modelo que prevaleceu nas últimas décadas apostava na busca da maximização do lucro e do consumo, numa óptica individualista e egoísta que pretendia avaliar as pessoas apenas pela sua capacidade de dar resposta às exigências da competitividade. Olhando de outra perspectiva, porém, o sucesso verdadeiro e duradouro pode ser obtido com a dádiva de si mesmo, dos seus dotes intelectuais, da própria capacidade de iniciativa, já que o desenvolvimento económico suportável, isto é, autenticamente humano tem necessidade do princípio da gratuidade como expressão de fraternidade e da lógica do dom. Concretamente na actividade económica, o obreiro da paz aparece como aquele que cria relações de lealdade e reciprocidade com os colaboradores e os colegas, com os clientes e os usuários. Ele exerce a actividade económica para o bem comum, vive o seu compromisso como algo que ultrapassa o interesse próprio, beneficiando as gerações presentes e futuras. Deste modo sente-se a trabalhar não só para si mesmo, mas também para dar aos outros um futuro e um trabalho dignos.
No âmbito econômico, são necessárias – especialmente por parte dos Estados – políticas de desenvolvimento industrial e agrícola que tenham a peito o progresso social e a universalização de um Estado de direito e democrático. Fundamental e imprescindível é também a estruturação ética dos mercados monetário, financeiro e comercial; devem ser estabilizados e melhor coordenados e controlados, de modo que não causem dano aos mais pobres. A solicitude dos diversos obreiros da paz deve ainda concentrar-se – com mais determinação do que tem sido feito até agora – na consideração da crise alimentar, muito mais grave do que a financeira. O tema da segurança das provisões alimentares voltou a ser central na agenda política internacional, por causa de crises relacionadas, para além do mais, com as bruscas oscilações do preço das matérias--primas agrícolas, com comportamentos irresponsáveis por parte de certos agentes económicos e com um controle insuficiente por parte dos Governos e da comunidade internacional. Para enfrentar semelhante crise, os obreiros da paz são chamados a trabalhar juntos em espírito de solidariedade, desde o nível local até ao internacional, com o objectivo de colocar os agricultores, especialmente nas pequenas realidades rurais, em condições de poderem realizar a sua actividade de modo digno e sustentável dos pontos de vista social, ambiental e económico.
Educação para uma cultura da paz:o papel da família e das instituições
6. Desejo veementemente reafirmar que os diversos obreiros da paz são chamados a cultivar a paixão pelo bem comum da família e pela justiça social, bem como o empenho por uma válida educação social.
Ninguém pode ignorar ou subestimar o papel decisivo da família, célula básica da sociedade, dos pontos de vista demográfico, ético, pedagógico, económico e político. Ela possui uma vocação natural para promover a vida: acompanha as pessoas no seu crescimento e estimula-as a enriquecerem-se entre si através do cuidado recíproco. De modo especial, a família cristã guarda em si o primordial projecto da educação das pessoas segundo a medida do amor divino. A família é um dos sujeitos sociais indispensáveis para a realização duma cultura da paz. É preciso tutelar o direito dos pais e o seu papel primário na educação dos filhos, nomeadamente nos âmbitos moral e religioso. Na família, nascem e crescem os obreiros da paz, os futuros promotores duma cultura da vida e do amor.
Nesta tarefa imensa de educar para a paz, estão envolvidas de modo particular as comunidades dos crentes. A Igreja toma parte nesta grande responsabilidade através da nova evangelização, que tem como pontos de apoio a conversão à verdade e ao amor de Cristo e, consequentemente, o renascimento espiritual e moral das pessoas e das sociedades. O encontro com Jesus Cristo plasma os obreiros da paz, comprometendo-os na comunhão e na superação da injustiça.
Uma missão especial em prol da paz é desempenhada pelas instituições culturais, escolásticas e universitárias. Delas se requer uma notável contribuição não só para a formação de novas gerações de líderes, mas também para a renovação das instituições públicas, nacionais e internacionais. Podem também contribuir para uma reflexão científica que radique as actividades económicas e financeiras numa sólida base antropológica e ética. O mundo actual, particularmente o mundo da política, necessita do apoio dum novo pensamento, duma nova síntese cultural, para superar tecnicismos e harmonizar as várias tendências políticas em ordem ao bem comum. Este, visto como conjunto de relações interpessoais e instituições positivas ao serviço do crescimento integral dos indivíduos e dos grupos, está na base de toda a verdadeira educação para a paz.
Uma pedagogia do obreiro da paz
7. Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras de paz concorrem para realizar o bem comum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amarem-se e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será « dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar »,7 de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão duma pedagogia do perdão. Na realidade, o mal vence-se com o bem, e a justiça deve ser procurada imitando a Deus Pai que ama todos os seus filhos (cf. Mt 5, 21-48). É um trabalho lento, porque supõe uma evolução espiritual, uma educação para os valores mais altos, uma visão nova da história humana. É preciso renunciar à paz falsa, que prometem os ídolos deste mundo, e aos perigos que a acompanham; refiro-me à paz que torna as consciências cada vez mais insensíveis, que leva a fechar-se em si mesmo, a uma existência atrofiada vivida na indiferença. Ao contrário, a pedagogia da paz implica serviço, compaixão, solidariedade, coragem e perseverança.
Jesus encarna o conjunto destas atitudes na sua vida até ao dom total de Si mesmo, até «perder a vida» (cf. Mt 10, 39; Lc 17, 33; Jo 12, 25). E promete aos seus discípulos que chegarão, mais cedo ou mais tarde, a fazer a descoberta extraordinária de que falamos no início: no mundo, está presente Deus, o Deus de Jesus Cristo, plenamente solidário com os homens. Neste contexto, apraz-me lembrar a oração com que se pede a Deus para fazer de nós instrumentos da sua paz, a fim de levar o seu amor onde há ódio, o seu perdão onde há ofensa, a verdadeira fé onde há dúvida. Por nossa vez pedimos a Deus, juntamente com o Beato João XXIII, que ilumine os responsáveis dos povos para que, junto com a solicitude pelo justo bem-estar dos próprios concidadãos, garantam e defendam o dom precioso da paz; inflame a vontade de todos para superarem as barreiras que dividem, reforçarem os vínculos da caridade mútua, compreenderem os outros e perdoarem aos que lhes tiverem feito injúrias, de tal modo que, em virtude da sua acção, todos os povos da terra se tornem irmãos e floresça neles e reine para sempre a tão suspirada paz.
Com esta invocação, faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz.
Vaticano, 8 de Dezembro de 2012.
*Tradução Canção Nova.
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
Dom Vilson recebe equipe da Catequese junto à pessoa com deficiência
Dom Vilson e a equipe da Catequese junto à pessoa com deficiência |
Estavam presentes: Pe. Décio José Walker, Assessor da Comissão de Animação Bíblico-Catequética da CNBB, os representantes da Sub-Região de Campinas: membros da Pastoral dos Surdos da diocese de Limeira; os representantes da Sub-Região RPI: Vanilda; os representantes da Sub-Região SPI: Margarete, Maria Aguilar, Solange, Mario; os representantes da Sub-Região SPII: Sonia, Paulo, Ir. Daiane, Cícera; os representantes da Pastoral da Pessoa com deficiência da Arquidiocese de São Paulo: Valter e Neuza; os representantes do Movimento Fé e Luz: Walter e Marcia.
Na ocasião o bispo apresentou o texto a Juventude e Iniciação à Fé, destacando a “A perspectiva cristã de nossa catequese mistagógica tem muito a oferecer quando nos remete a fonte de nossa fé: a experiência a partir da fé no Ressuscitado. Essa experiência catecumenal que abre a todos a oportunidade de refletir os fundamentos de sua fé a partir da própria experiência e participação nos mistérios sacramentais em comunidade, gera a possibilidade de engajamento mais profundo de nossos jovens e adolescentes na Igreja. Estimulá-los a uma vivência mística e operante da fé, é aguçar neles a curiosidade na busca do entendimento do mistério pela prática do seguimento do evangelho, ao trabalhar neles o desenvolvimento de suas potencialidades, desde a mais tenra idade, encorajando-os ao descobrimento de dons e carismas em nossos núcleos catequéticos”.
O padre Décio também apresentou os projetos da catequese neste próximo período de 4 anos, e para catequese junto à pessoa com deficiência, a preparação de um subsídio inspirado no V Seminário Nacional da Catequese junto à pessoa com deficiência para o próximo ano; e foi sugerida uma proposta que no ano de 2014 seja realizado o Seminário de Iniciação de Cristã junto com a Catequese junto à pessoa com deficiência.
Na reunião, o Sr. Valter e Neuza apresentaram a trajetória da Pastoral da Pessoa com Deficiência da Arquidiocese de São Paulo, o grupo que se formou para trabalhar no tema da Campanha da Fraternidade 2006, e continuou fazendo Fóruns após a Campanha da Fraternidade de 2006, e que faz 2 que foi constituída como Pastoral da Pessoa com Deficiência e procuram desenvolver um trabalho de evangelizando e a união junto com os catequistas é um meio de aprender e também ensinar dinâmicas que faça fomentar o trabalho catequético no Regional Sul 1, apresentaram também os textos Construindo a Teologia da Inclusão de Valter Ceccheti, e o texto Catequese Inclusiva do Pe. Antônio Marcos Depizzoli e o Projeto Igreja Acessível, que procura sensibilizar e envolver a comunidade para a inclusão das pessoas com deficiência na vida eclesial.
Colaboração, Cícera Thadeu dos Santos da Diocese de Mogi das Cruzes
domingo, 9 de dezembro de 2012
Universidades católicas
A recente nomeação da Reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) causou diversas reações na comunidade acadêmica da Universidade: estranheza, contrariedade e aprovação. Aparentemente, o motivo foi a escolha, pelo Grão Chanceler da Universidade, não do primeiro nome da lista tríplice que lhe foi apresentada, mas do terceiro. Reações até certo ponto compreensíveis.
Talvez algumas reações decorreram da interpretação equivocada do processo de escolha do Reitor e Vice Reitor da PUC-SP. Conforme o Estatuto da PUC-SP, compete ao Conselho Superior da Universidade (CONSUN) “organizar, através de consulta direta à comunidade, por meio de processo eletivo, a lista tríplice de nomes de professores para escolha e nomeação do Reitor e respectivo Vice Reitor, nos termos deste Estatuto, encaminhando-a ao Grão Chanceler” (Art 21/XXII).
E prevê ainda o mesmo Estatuto que ao Grão Chanceler compete ”escolher e nomear o Reitor e o Vice Reitor dentre os professores de uma lista tríplice organizada e encaminhada pelo CONSUN” (Art. 43/II). Portanto, não se trata de escolha direta do Reitor e do Vice pela comunidade universitária; se assim fosse, não haveria sentido na apresentação de uma lista tríplice pelo CONSUN, e estaria prevista a eleição direta, pura e simples, do Reitor e do Vice pela comunidade universitária. Mas não é isso o que consta no Estatuto.
É verdade que a escolha do Reitor recaiu, tradicionalmente, sobre o nome mais votado, pelas razões que a Autoridade competente julgou convincentes; eu mesmo, na escolha precedente, procedi assim. Mas se, desta vez, seguiu outra ordem, é porque esta possibilidade sempre esteve implicada na própria apresentação da lista tríplice pelo CONSUN ao Grão Chanceler.
Toda essa questão leva a refletir algo mais sobre as Universidades Católicas, que estão ligadas à Igreja e são regidas, quanto à sua natureza e missão, pela Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae (“Do Coração da Igreja”, 1991), do papa João Paulo II. Elas têm sua origem “do coração da Igreja” e expressam, da maneira que lhes é própria, a missão da Igreja na busca e explicitação do verdadeiro saber (“sapientia”) e do bem da humanidade. No que se refere ao ordenamento acadêmico, elas seguem a legislação civil do país onde se encontram; mas quanto à sua identidade, orientação e objetivos específicos, elas estão sujeitas às normas da Igreja.
Uma universidade católica, como qualquer outra, é uma comunidade de estudiosos, dos vários campos do saber humano; também ela se dedica à pesquisa, ao ensino e às várias formas de serviço à sociedade, compatíveis com sua identidade e missão. Enquanto “católica” e, em nosso caso, também “pontifícia”, ela está ligada à Igreja, segue suas diretrizes e deve realizar suas atividades de maneira coerente com os ideais, princípios e comportamentos católicos; nem se poderia esperar que fosse diversamente, ou até o contrário disso.
No entanto, não equivale isso a dizer que todos os que frequentam a universidade católica devam ser confessionalmente católicos; a própria PUC-SP acolhe muitos estudantes que não professam a fé católica e são todos bem vindos; a liberdade de consciência é plenamente respeitada e o credo católico não é imposto a ninguém. Mas é certo que a própria universidade tem a missão de apresentar e honrar a sua identidade diante de todos os que a frequentam e integram a comunidade acadêmica.
A liberdade de pensamento, ensino e manifestação das ideias, consagrada pelas Constituições dos países democráticos, assegura esse direito às instituições confessionais e não confessionais. Regimes totalitários, geralmente, são intolerantes em relação a universidades “confessionais”, ou que não se alinhem plenamente ao pensamento único e oficial, impedindo até mesmo a sua existência e livre atuação.
Poderia parecer que as universidades católicas e outras, de tipo confessional, existem apenas para a vantagem das próprias Instituições que as mantêm, mas isso é outro equívoco. Elas são, antes de mais nada, instituições de educação, ensino, formação de pessoas e de fomento da cultura dos povos, à luz de suas próprias percepções e interpretações da realidade. E não deve ser visto como um dano para a sociedade que haja instituições com diversos tipos de diretrizes na educação e na formação dos cidadãos. O conjunto da cultura e do convívio social fica enriquecido com uma sadia pluralidade educacional. Contrariamente, se tudo tendesse ao pensamento oficial e único, haveria o risco de uma cultura monótona e com horizontes sempre mais estreitos. Isso não representaria um benefício para a convivência plural e democrática.
A universidade católica tem uma contribuição específica a dar para a formação cultural; e essa contribuição decorre da visão cristã sobre o homem e o mundo, que tem desdobramentos, entre outras coisas, na filosofia em geral, na antropologia, na ética, educação, na psicologia, na economia, na política e também na técnica. Esses princípios cristãos oferecem uma forma própria de interpretação sobre o homem, a sociedade, as relações sociais e a história; e também, sobre a natureza e a interação do homem com o ambiente da vida.
Mais uma vez, entendo que a universidade católica não tem a finalidade de impor as expressões próprias de uma “cultura cristã” às pessoas e ao convívio social, mas de as oferecer como contribuição, que procede da sua própria autoconsciência, para o enriquecimento da cultura e da vida social. A universidade católica é, por excelência, um espaço de diálogo cultural, onde ela tem muito a oferecer, ex corde Ecclesiae, a partir do âmago de sua identidade, da sua mensagem e da experiência secular da Igreja.
Publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. de 08.12.2012
Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Talvez algumas reações decorreram da interpretação equivocada do processo de escolha do Reitor e Vice Reitor da PUC-SP. Conforme o Estatuto da PUC-SP, compete ao Conselho Superior da Universidade (CONSUN) “organizar, através de consulta direta à comunidade, por meio de processo eletivo, a lista tríplice de nomes de professores para escolha e nomeação do Reitor e respectivo Vice Reitor, nos termos deste Estatuto, encaminhando-a ao Grão Chanceler” (Art 21/XXII).
E prevê ainda o mesmo Estatuto que ao Grão Chanceler compete ”escolher e nomear o Reitor e o Vice Reitor dentre os professores de uma lista tríplice organizada e encaminhada pelo CONSUN” (Art. 43/II). Portanto, não se trata de escolha direta do Reitor e do Vice pela comunidade universitária; se assim fosse, não haveria sentido na apresentação de uma lista tríplice pelo CONSUN, e estaria prevista a eleição direta, pura e simples, do Reitor e do Vice pela comunidade universitária. Mas não é isso o que consta no Estatuto.
É verdade que a escolha do Reitor recaiu, tradicionalmente, sobre o nome mais votado, pelas razões que a Autoridade competente julgou convincentes; eu mesmo, na escolha precedente, procedi assim. Mas se, desta vez, seguiu outra ordem, é porque esta possibilidade sempre esteve implicada na própria apresentação da lista tríplice pelo CONSUN ao Grão Chanceler.
Toda essa questão leva a refletir algo mais sobre as Universidades Católicas, que estão ligadas à Igreja e são regidas, quanto à sua natureza e missão, pela Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae (“Do Coração da Igreja”, 1991), do papa João Paulo II. Elas têm sua origem “do coração da Igreja” e expressam, da maneira que lhes é própria, a missão da Igreja na busca e explicitação do verdadeiro saber (“sapientia”) e do bem da humanidade. No que se refere ao ordenamento acadêmico, elas seguem a legislação civil do país onde se encontram; mas quanto à sua identidade, orientação e objetivos específicos, elas estão sujeitas às normas da Igreja.
Uma universidade católica, como qualquer outra, é uma comunidade de estudiosos, dos vários campos do saber humano; também ela se dedica à pesquisa, ao ensino e às várias formas de serviço à sociedade, compatíveis com sua identidade e missão. Enquanto “católica” e, em nosso caso, também “pontifícia”, ela está ligada à Igreja, segue suas diretrizes e deve realizar suas atividades de maneira coerente com os ideais, princípios e comportamentos católicos; nem se poderia esperar que fosse diversamente, ou até o contrário disso.
No entanto, não equivale isso a dizer que todos os que frequentam a universidade católica devam ser confessionalmente católicos; a própria PUC-SP acolhe muitos estudantes que não professam a fé católica e são todos bem vindos; a liberdade de consciência é plenamente respeitada e o credo católico não é imposto a ninguém. Mas é certo que a própria universidade tem a missão de apresentar e honrar a sua identidade diante de todos os que a frequentam e integram a comunidade acadêmica.
A liberdade de pensamento, ensino e manifestação das ideias, consagrada pelas Constituições dos países democráticos, assegura esse direito às instituições confessionais e não confessionais. Regimes totalitários, geralmente, são intolerantes em relação a universidades “confessionais”, ou que não se alinhem plenamente ao pensamento único e oficial, impedindo até mesmo a sua existência e livre atuação.
Poderia parecer que as universidades católicas e outras, de tipo confessional, existem apenas para a vantagem das próprias Instituições que as mantêm, mas isso é outro equívoco. Elas são, antes de mais nada, instituições de educação, ensino, formação de pessoas e de fomento da cultura dos povos, à luz de suas próprias percepções e interpretações da realidade. E não deve ser visto como um dano para a sociedade que haja instituições com diversos tipos de diretrizes na educação e na formação dos cidadãos. O conjunto da cultura e do convívio social fica enriquecido com uma sadia pluralidade educacional. Contrariamente, se tudo tendesse ao pensamento oficial e único, haveria o risco de uma cultura monótona e com horizontes sempre mais estreitos. Isso não representaria um benefício para a convivência plural e democrática.
A universidade católica tem uma contribuição específica a dar para a formação cultural; e essa contribuição decorre da visão cristã sobre o homem e o mundo, que tem desdobramentos, entre outras coisas, na filosofia em geral, na antropologia, na ética, educação, na psicologia, na economia, na política e também na técnica. Esses princípios cristãos oferecem uma forma própria de interpretação sobre o homem, a sociedade, as relações sociais e a história; e também, sobre a natureza e a interação do homem com o ambiente da vida.
Mais uma vez, entendo que a universidade católica não tem a finalidade de impor as expressões próprias de uma “cultura cristã” às pessoas e ao convívio social, mas de as oferecer como contribuição, que procede da sua própria autoconsciência, para o enriquecimento da cultura e da vida social. A universidade católica é, por excelência, um espaço de diálogo cultural, onde ela tem muito a oferecer, ex corde Ecclesiae, a partir do âmago de sua identidade, da sua mensagem e da experiência secular da Igreja.
Publicado em O ESTADO DE SÃO PAULO, ed. de 08.12.2012
Card. Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Identidade e pluralismo: a missão da PUC
A Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) esteve em evidência na imprensa nos últimos dias, em função da recente nomeação da professora Anna Maria Marques Cintra como Reitora da instituição; quero, pois, esclarecer o papel e a preocupação da Igreja Católica, presente na gestão de uma universidade.
Antes, porém, reitero que a nomeação está de acordo com a norma da Universidade. Escolhi a Reitora entre os candidatos da lista tríplice organizada e encaminhada a mim pelo Conselho Superior da Universidade (CONSUN), como estabelece o estatuto da PUC-SP.
Há quem considere que a PUC-SP cumpriria melhor o seu papel sendo uma universidade laica, desvinculada da Igreja. Isso, porém, não seria coerente com a natureza de nossa universidade católica que, além de tudo, também é “pontifícia”.
Não cabem equívocos, nesse sentido, e não dissimulo meu empenho para evidenciar e fortalecer na PUC-SP a sua identidade católica. Assim fazendo, não busco simplesmente que ela esteja alinhada com os valores cristãos, mas que dê sua contribuição específica, como instituição católica, à sociedade paulista e brasileira.
Uma universidade católica não existe apenas para defender a Igreja. O seu fim primário é o serviço à verdade e ao bem do homem. E para nós, católicos, esse afã não coloca em risco a nossa fé: na visão cristã, é plenamente harmônica a relação entre fé e razão. “Religião do Logos, o Cristianismo não relega a fé para o âmbito do irracional – afirma Bento XVI –, mas atribui a origem e o sentido da realidade à única Razão criadora”.
A unidade entre fé e razão é um elemento essencial do pensamento cristão, que não está fechado em si mesmo. A fé, ao contrário de ser limite, é luz, que amplia a visão e as perspectivas para uma análise serena e positiva dos acontecimentos sociais e para uma compreensão mais profunda do mundo e do fenômeno humano.
Para um pesquisador cristão, a coerência com a sua fé não o faz sobrepor ao seu trabalho critérios alheios à ciência; sua própria fé leva-o ao amor à verdade e ao respeito pela dignidade da pessoa humana. Num contexto relativista, como o atual, uma universidade católica contribui para mostrar que há valores inegociáveis, como a busca da verdade, o valor da vida humana em todas as suas etapas e a dignidade da mulher.
A Universidade Católica, diz ainda o Papa, está chamada “a não limitar a aprendizagem à funcionalidade de um êxito econômico, mas a ampliar a sua ação em vista de projetos em que o dom da inteligência investiga e desenvolve as dádivas do mundo criado, superando uma visão apenas produtivista e utilitarista da existência”.
Essa especial missão não a faz ser superior às outras universidades, mas deve levá-la a uma atitude de serviço, de diálogo e de abertura às outras instituições educativas, num autêntico espírito universitário.
Reconheço que, no meio acadêmico contemporâneo, a maneira cristã de ver o mundo e o ser humano não é compartilhada por todos. No entanto, isso não desqualifica a sua contribuição para a pluralidade da cultura; antes, explicita ainda mais a sua relevância para a construção de uma sociedade aberta, na qual possa haver um confronto entre dados de fato e valores. Karl Popper observa que uma sociedade aberta necessita de valores, que ela própria não está em condições de produzir para si mas, muitas vezes, vai buscar no cristianismo.
Por isso, mesmo, num mundo que parece esquecer-se de Deus, uma universidade católica tem uma importante função social, também como contribuição para o pluralismo e a liberdade de pensamento. E isso não parece irrelevante para o convívio democrático!
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
SP 05.12.2012
Antes, porém, reitero que a nomeação está de acordo com a norma da Universidade. Escolhi a Reitora entre os candidatos da lista tríplice organizada e encaminhada a mim pelo Conselho Superior da Universidade (CONSUN), como estabelece o estatuto da PUC-SP.
Há quem considere que a PUC-SP cumpriria melhor o seu papel sendo uma universidade laica, desvinculada da Igreja. Isso, porém, não seria coerente com a natureza de nossa universidade católica que, além de tudo, também é “pontifícia”.
Não cabem equívocos, nesse sentido, e não dissimulo meu empenho para evidenciar e fortalecer na PUC-SP a sua identidade católica. Assim fazendo, não busco simplesmente que ela esteja alinhada com os valores cristãos, mas que dê sua contribuição específica, como instituição católica, à sociedade paulista e brasileira.
Uma universidade católica não existe apenas para defender a Igreja. O seu fim primário é o serviço à verdade e ao bem do homem. E para nós, católicos, esse afã não coloca em risco a nossa fé: na visão cristã, é plenamente harmônica a relação entre fé e razão. “Religião do Logos, o Cristianismo não relega a fé para o âmbito do irracional – afirma Bento XVI –, mas atribui a origem e o sentido da realidade à única Razão criadora”.
A unidade entre fé e razão é um elemento essencial do pensamento cristão, que não está fechado em si mesmo. A fé, ao contrário de ser limite, é luz, que amplia a visão e as perspectivas para uma análise serena e positiva dos acontecimentos sociais e para uma compreensão mais profunda do mundo e do fenômeno humano.
Para um pesquisador cristão, a coerência com a sua fé não o faz sobrepor ao seu trabalho critérios alheios à ciência; sua própria fé leva-o ao amor à verdade e ao respeito pela dignidade da pessoa humana. Num contexto relativista, como o atual, uma universidade católica contribui para mostrar que há valores inegociáveis, como a busca da verdade, o valor da vida humana em todas as suas etapas e a dignidade da mulher.
A Universidade Católica, diz ainda o Papa, está chamada “a não limitar a aprendizagem à funcionalidade de um êxito econômico, mas a ampliar a sua ação em vista de projetos em que o dom da inteligência investiga e desenvolve as dádivas do mundo criado, superando uma visão apenas produtivista e utilitarista da existência”.
Essa especial missão não a faz ser superior às outras universidades, mas deve levá-la a uma atitude de serviço, de diálogo e de abertura às outras instituições educativas, num autêntico espírito universitário.
Reconheço que, no meio acadêmico contemporâneo, a maneira cristã de ver o mundo e o ser humano não é compartilhada por todos. No entanto, isso não desqualifica a sua contribuição para a pluralidade da cultura; antes, explicita ainda mais a sua relevância para a construção de uma sociedade aberta, na qual possa haver um confronto entre dados de fato e valores. Karl Popper observa que uma sociedade aberta necessita de valores, que ela própria não está em condições de produzir para si mas, muitas vezes, vai buscar no cristianismo.
Por isso, mesmo, num mundo que parece esquecer-se de Deus, uma universidade católica tem uma importante função social, também como contribuição para o pluralismo e a liberdade de pensamento. E isso não parece irrelevante para o convívio democrático!
Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo
SP 05.12.2012
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Dom Tarcísio é nomeado vigário geral da Arquidiocese
O cardeal dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, nomeou como vigário geral “ad ínterim” para a Arquidiocese de São Paulo dom Tarcísio Scaramussa (foto), bispo auxiliar da arquidiocese e vigário da Região Episcopal Sé.
O bispo assume a partir da publicação do ato de Nomeação. De acordo com o ato de nomeação, dom Tarcísio assume como vigário geral da Arquidiocese sem prejuízo a outras funções que realize, como por exemplo, o fato de ser o bispo referencial do Setor Juventude.
Em entrevista para o site da Arquidiocese, o bispo disse que sente “grande proximidade, apoio e fraternidade da parte de dom Odilo, o que me faz sentir sempre sereno e seguro no serviço à Arquidiocese de São Paulo.
Leia a íntegra da entrevista:
Site da Arquidiocese - Como o senhor recebe essa nomeação?Dom Tarcísio Scaramussa - Recebo-a como um mandato de serviço, ao qual me disponho a acolher com alegria e dedicação, como uma extensão do trabalho que já realizo juntamente com os outros bispos auxiliares da Arquidiocese e com dom Cláudio Hummes.
Site da Arquidiocese - Quais as atribuições deste cargo?Dom Tarcísio - O Vigário geral é alguém a quem o bispo diocesano delega poder ordinário para ajudá-lo no governo de toda a diocese. De acordo com o Código de Direito Canônico, "compete ao Vigário geral o poder executivo que, por direito, pertence ao Bispo diocesano, para praticar os atos administrativos, exceto aqueles que o Bispo tenha reservado a si, ou que, pelo direito, requeiram mandado especial do Bispo" (Cân. 479). Dom Odilo nomeou-me interinamente, ou seja, por um período provisório.
Site da Arquidiocese - Como o senhor vê a confiança da Igreja no senhor?Dom Tarcísio - A Igreja é mediação de Deus, portanto, sinto em cada chamado de serviço que ela faz a vontade de Deus para mim. O Senhor que nos confia uma missão, nos assiste em todos os momentos, também através da própria Igreja. Particularmente, tenho sentido grande proximidade, apoio e fraternidade da parte de dom Odilo, o que me faz sentir sempre sereno e seguro no serviço à Arquidiocese de São Paulo.
Fonte: Site da Arquidiocese de São Paulo
Creio no Deus que vem
Por Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente do Regional Sul 1 da CNBB
Iniciamos a celebração do Advento dentro do Ano da Fé. A qual “Mistério da fé” nos referimos neste tempo litúrgico? Penso que poderíamos resumir os vários aspectos da nossa fé, implicados no Advento, com esta afirmação: “creio no Deus que vem”.
Nosso Deus não é estático, nem imóvel ou fechado em si mesmo. A criação do mundo já revelou que ele “saiu de si mesmo”, expandiu a sua glória e imprimiu sua sabedoria em incontáveis obras, dando-lhes o ser e a dinâmica própria. E veio ao encontro do homem, criatura que ama mais que todas, pois nela imprimiu “sua imagem e semelhança”, dando-se a conhecer a ele, dialogando com o homem e chamando-o a ser seu cooperador e amigo.
O Deus em quem nós cremos, portanto, não é simplesmente abstrato, distante, incognoscível. Ele é, sim, o Deus grande e misterioso, que supera tudo o que possamos pensar e dizer com palavras e conceitos humanos; mas não é inacessível, ausente, desconhecido. É o Deus sábio, providente, atraente e amoroso que, de muitas formas, deu-se a conhecer ao homem.
Cremos no Deus fiel, que promete e cumpre; pode o homem falhar e ser infiel ao seu pacto com Deus; mas Deus fala e cumpre, pois é verdadeiro não só no existir, mas também no agir. Num mundo de aparências e dissimulações, de deslealdades e mentiras, parece até impossível que alguém não seja assim. Mas nosso Deus é veraz e totalmente digno de confiança.
Cremos no Deus que se tornou próximo de nós por meio de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por meio da Virgem Maria: em Jesus Cristo, cujo nascimento recordaremos novamente no Natal, Deus aproximou-se de maneira inimaginável do homem, assumiu a nossa frágil condição para estar ao nosso lado, falar-nos humanamente, ouvir nossos gemidos, mostrar-nos o caminho do acesso a ele e comunicar sua Santidade à nossa humana e pecadora natureza.
O Natal celebra um Mistério da fé tão grande, que aos homens parece impossível ser verdadeiro; sábios e entendidos ficam confusos e permanecem descrentes; mas os pequenos e humildes se alegram, pois são capazes de compreender que aquilo que não é possível ao homem, a Deus é possível!
Cremos no Deus que virá. Nossa fé nos fala de Deus como aquele que nunca está ausente da vida do homem e do mundo, mas tem seu olhar continuamente voltado para a “obra da sua sabedoria”. Nada mais contrário à nossa fé católica, que imaginar um Deus de braços cruzados, ausente, distraído e desinteressado das coisas que não são Deus. Mesmo deixando a liberdade e a autonomia às coisas criadas, Deus as acompanha com seu olhar providente, continuamente voltado para nós e para tudo o que criou com amor; um olhar amoroso e continuamente criador que, se fosse desviado por um instante, deixaria as coisas caírem novamente no seu nada.
O Advento também nos fala do “Deus que virá”; a seu encontro nós vamos, passo a passo, para estar com ele definitivamente no final de nossa vida. Por isso, a Liturgia do Advento nos chama à vigilância, para não nos distrairmos ao longo da vida, nem perdermos o rumo e a grande meta do caminho, que é o encontro definitivo com Deus e a felicidade sem fim.
Esta vida é, para nós, o tempo de realizarmos o bem e de correspondermos ao amor do Deus que vem, optando livremente por ele; e assim, deixando-nos atrair e envolver por ele, vivendo entre as coisas que passam, busquemos continuamente as que não passam.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 04.12.2012
Iniciamos a celebração do Advento dentro do Ano da Fé. A qual “Mistério da fé” nos referimos neste tempo litúrgico? Penso que poderíamos resumir os vários aspectos da nossa fé, implicados no Advento, com esta afirmação: “creio no Deus que vem”.
Nosso Deus não é estático, nem imóvel ou fechado em si mesmo. A criação do mundo já revelou que ele “saiu de si mesmo”, expandiu a sua glória e imprimiu sua sabedoria em incontáveis obras, dando-lhes o ser e a dinâmica própria. E veio ao encontro do homem, criatura que ama mais que todas, pois nela imprimiu “sua imagem e semelhança”, dando-se a conhecer a ele, dialogando com o homem e chamando-o a ser seu cooperador e amigo.
O Deus em quem nós cremos, portanto, não é simplesmente abstrato, distante, incognoscível. Ele é, sim, o Deus grande e misterioso, que supera tudo o que possamos pensar e dizer com palavras e conceitos humanos; mas não é inacessível, ausente, desconhecido. É o Deus sábio, providente, atraente e amoroso que, de muitas formas, deu-se a conhecer ao homem.
Cremos no Deus fiel, que promete e cumpre; pode o homem falhar e ser infiel ao seu pacto com Deus; mas Deus fala e cumpre, pois é verdadeiro não só no existir, mas também no agir. Num mundo de aparências e dissimulações, de deslealdades e mentiras, parece até impossível que alguém não seja assim. Mas nosso Deus é veraz e totalmente digno de confiança.
Cremos no Deus que se tornou próximo de nós por meio de Jesus Cristo, Filho de Deus feito homem por meio da Virgem Maria: em Jesus Cristo, cujo nascimento recordaremos novamente no Natal, Deus aproximou-se de maneira inimaginável do homem, assumiu a nossa frágil condição para estar ao nosso lado, falar-nos humanamente, ouvir nossos gemidos, mostrar-nos o caminho do acesso a ele e comunicar sua Santidade à nossa humana e pecadora natureza.
O Natal celebra um Mistério da fé tão grande, que aos homens parece impossível ser verdadeiro; sábios e entendidos ficam confusos e permanecem descrentes; mas os pequenos e humildes se alegram, pois são capazes de compreender que aquilo que não é possível ao homem, a Deus é possível!
Cremos no Deus que virá. Nossa fé nos fala de Deus como aquele que nunca está ausente da vida do homem e do mundo, mas tem seu olhar continuamente voltado para a “obra da sua sabedoria”. Nada mais contrário à nossa fé católica, que imaginar um Deus de braços cruzados, ausente, distraído e desinteressado das coisas que não são Deus. Mesmo deixando a liberdade e a autonomia às coisas criadas, Deus as acompanha com seu olhar providente, continuamente voltado para nós e para tudo o que criou com amor; um olhar amoroso e continuamente criador que, se fosse desviado por um instante, deixaria as coisas caírem novamente no seu nada.
O Advento também nos fala do “Deus que virá”; a seu encontro nós vamos, passo a passo, para estar com ele definitivamente no final de nossa vida. Por isso, a Liturgia do Advento nos chama à vigilância, para não nos distrairmos ao longo da vida, nem perdermos o rumo e a grande meta do caminho, que é o encontro definitivo com Deus e a felicidade sem fim.
Esta vida é, para nós, o tempo de realizarmos o bem e de correspondermos ao amor do Deus que vem, optando livremente por ele; e assim, deixando-nos atrair e envolver por ele, vivendo entre as coisas que passam, busquemos continuamente as que não passam.
Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 04.12.2012
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
Pastoral Carcerária divulga nota contra a violência no estado
A Pastoral Carcerária do Regional Sul 1 da CNBB, divulgou recentemente, uma nota contra a onda de violência no estado de São Paulo. Leia a nota:
A Palavra de Deus (Hb 4,2), é viva, é realizadora, mais afiada do que toda a espada de dois gumes. Jesus sintetizou os Dez Mandamentos no Amor para com Deus e para com o próximo (Mt 22,37-40).
ENCONTRO ESTADUAL
NOTA PÚBLICA DA PASTORAL CARCERÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO/CNBB-SUL1
Diante da ascendente onda de violência que se espalha pelo Estado de São Paulo, a Pastoral Carcerária, à luz do Ano da Fé, vem manifestar publicamente seu repúdio à atual política de segurança pública e integral solidariedade a todas as famílias que sofreram e sofrem perdas nesse triste momento.
Conforme o Documento de Aparecida n. 78, as causas da violência “são múltiplas: a idolatria do dinheiro, o avanço de uma ideologia individualista e utilitarista, a falta de respeito pela dignidade de cada pessoa, a deterioração do tecido social, a corrupção inclusive nas forças da ordem e a falta de políticas públicas de equidade social”.
Frente a um cenário de patente violência estrutural, expresso justamente nas causas citadas no Documento de Aparecida, não podemos comungar com políticas de incentivo à violência e de criminalização da pobreza como as que hoje presenciamos em São Paulo.
A superação do atual estado de violência perpassa, sobretudo, pela revisão da política de segurança pública em vigor no estado, que apenas tem contribuído para o aumento de mortes e para o encarceramento em massa das pessoas mais vulneráveis.
É preciso vislumbrar, diante disso, uma sociedade em que a paz e a justiça prospere. Onde a desigualdade social, os interesses de grupos econômicos e a corrupção política e institucional não sejam a tônica do Estado. Os recursos públicos devem ser destinados, sem reservas ou cálculos estatísticos que não respondem ao que todos clamam e exigem, à promoção da vida e à garantia dos direitos humanos básicos (educação, moradia, trabalho, saúde, lazer, entre outros).
Urge que a representação política não se acovarde diante do desafio colocado pela conjuntura presente, sob pena de seguirmos cultivando terreno fértil para o caos social, a violência e a degeneração humana e espiritual.
As iniciativas governamentais veiculadas pela mídia não são suficientes para resolver a questão, vez que são reativas. Demandamos ações pró-ativas, que atuem fortemente nas causas dos problemas, criando ambiente a médio e longo prazo digno de um projeto de sociedade onde a cultura de paz prevaleça de fato.
O referido Documento expressa ainda que: “Uma autêntica evangelização de nossos povos envolve assumir plenamente a radical idade do amor cristão, que se concretiza no seguimento de Cristo na Cruz; no padecer por Cristo por causa da justiça; no perdão e no amor aos inimigos.
Esse amor supera o amor humano e participa do amor divino, único eixo capaz de construir uma cultura da vida. No Deus Trindade a diversidade de Pessoas não gera violência e conflito; ao contrário, é a fonte mesma do amor e da vida. (...) A radicalidade da violência só se resolve com a radicalidade do amor redentor. Evangelizar sobre o amor de plena doação, como solução ao conflito, deve ser o eixo cultural “radical” de uma nova sociedade (...)”
É nesse espírito que a Pastoral Carcerária do Estado de São Paulo clama: basta de chacinas! Basta de encarceramento em massa! A paz só poderá ser alcançada com Justiça Social.
Deyvid T. Livrini Luiz
Coordenador Estadual da Pastoral Carcerária de São Paulo - CNBB/Sul 1
PO realiza encontro de avaliação e planejamento
A Pastoral Operária de São Paulo realizou encontro de avaliação e planejamento nos dias 17 e 18 de novembro, na Paróquia de Nossa Senhora dos Ferroviários, próxima à casa da PO Nacional no bairro da Moóca em São Paulo (SP).
Texto abordando as mudanças no mundo do trabalho provocou a reflexão sobre “o que é que não muda no trabalho”, concluindo-se que elementos como a exploração, as jornadas extensas, os acidentes, mas também a centralidade da produção fabril e a capacidade de organização dos trabalhadores permanecem sempre, apesar de todas as mudanças.
Na avaliação das atividades da Pastoral Operária foram enumeradas as atuações da PO junto à classe trabalhadora e dentro da Igreja, dando-se destaque à formação. Foi constatado que a PO passou por muitas mudanças em sua estrutura, analisando-se os últimos doze anos. No entanto, há aspectos dentro da PO que jamais mudam, pois fazem parte integrante de sua identidade, tais como: o compromisso com a classe trabalhadora, analisado à luz da palavra de Deus e do Ensino Social da Igreja, tendo como base, a prática de Jesus Cristo trabalhador. A existência dos grupos de base e as ações dentro do conflito capital versus trabalho completam este quadro.
A missão da Pastoral Operária frente à conjuntura atual apresenta desafios como:
Inserir todos/as os/as trabalhadores/as na luta de classes; unir os movimentos que encontram-se fragmentados; agregar juventude aos grupos de pastoral.
Texto e foto: Toninha Carrara da P.O.
CNBB divulga nota sobre a seca no Nordeste
Os Bispos do Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, reunidos em Brasília (DF), nos dias 27 e 28 de novembro de 2012, divulgaram na tarde desta quinta-feira (28) a nota sobre a seca no Nordeste. A íntegra da nota pode ser lida a seguir:
Nota da CNBB sobre a seca no Nordeste
Nós, bispos do Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil -CNBB, reunidos em Brasília-DF, nos dias 27 e 28 de novembro de 2012, vimos manifestar nossa solidariedade aos irmãos e irmãs que sofrem com a seca no Nordeste. Esta situação, que se prolonga de forma desalentadora, exige a soma de esforços e de iniciativas de todos: governo, Igrejas, empresários, sociedade civil organizada - para garantir às famílias a superação de tamanha adversidade.
Os recursos liberados pelo governo e o auxílio das Cáritas Diocesanas e de outras entidades são, sem dúvida, imprescindíveis para o socorro imediato dos afetados por tão longa estiagem, considerada a pior nos últimos 30 anos. Estas iniciativas têm contribuído para diminuir a fome, a mortalidade infantil e o êxodo. Sendo, porém, a seca uma realidade do semiárido brasileiro, é urgente tomar medidas eficazes que possibilitem a convivência com este fenômeno. Considerem-se, para esse fim, o desenvolvimento de políticas públicas específicas para a região e o aproveitamento das potencialidades das populações locais.
Preocupa-nos o risco de colapso hídrico urbano devido à falta de planejamento para um adequado fornecimento de água. Especialistas na área vêm nos mostrando que há meios mais baratos e de maior alcance social do que os megaprojetos, como a transposição dos recursos hídricos do Rio São Francisco, construção de grandes açudes, dentre outros.
No meio rural, as cisternas para a captação de água de chuva, iniciativa da Igreja Católica, mostraram-se eficientes para enfrentar períodos de estiagem prolongada. É importante ampliar essa iniciativa e também investir na construção de cisternas “calçadão” para a produção de hortaliças. Já a aplicação dos recursos financeiros e técnicos necessita ser ampliada e universalizada, levando-se em conta o protagonismo das populações locais e de suas organizações, no campo e na cidade. Torna-se necessário o controle para que os recursos sejam otimizados e cheguem realmente aos mais necessitados. Um planejamento adequado pode garantir soluções permanentes e duradouras que assegurem as condições de vida digna para todos.
A fé e a esperança, distintivos de nossos irmãos nordestinos, animem seus corações nesta hora de sofrimento e de dor. “Esperando contra toda esperança” (Rm 4,18), confiem-se ao Deus da vida e por seu Filho clamem: “Fica conosco, Senhor, porque ao redor de nós as sombras vão se tornando mais densas, e tu és a Luz; em nossos corações se insinua a desesperança, e tu os fazes arder com a certeza da Páscoa” (DAp 554).
Que o Divino Espírito Santo e Maria iluminem e inspirem a todos na esperança e na construção do bem.
Brasília, 28 de novembro de 2012.
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
terça-feira, 27 de novembro de 2012
COMIRE realiza Assembleia Anual
Para simbolizar o Ano da Fé, os participantes receberam uma vela acesa no Círio Pascal |
Na sede da OCM (Obra dos Cenáculos Missionários), situado na Região Episcopal da Lapa, o COMIRE (Conselho Missionário Regional) da CNBB – Sul 1, realizou neste sábado (24) sua Assembleia Anual com os representantes dos COMIDIS (Conselho Missionário Diocesano) das sub-regiões pastorais e de outros organismos missionários. Presidiu à Assembleia dom Vicente Costa, bispo da diocese de Jundiaí.
O encontro foi aberto com a celebração eucarística, presidida por dom Vicente, e caracterizada com simbologia referente ao Ano da Fé e ao compromisso missionário assumido no 3º Congresso Missionário, realizado em Jundiaí no mês de agosto passado. Comentando a palavra de Deus, lida e proclamada na celebração, o Bispo salientou a dimensão profética e de martírio que está muita ligada à missionariedade da Igreja. “Os missionários são testemunhas e continuadores da missão de Deus. Para ser profeta é necessário ter ousadia e coragem para enfrentar as dificuldades e oposições que são colocadas na frente dos anunciadores do Reino”, declarou. Para simbolizar o Ano da Fé, cada participante recebeu uma vela que, uma vez acesa a partir do Círio Pascal, foi o sinal visível das palavras pronunciadas pela Assembleia como compromisso de dar mais tempo e qualidade ao serviço missionário em todas as situações onde se trabalha.
A coordenadora do Comire, Maria de Fátima da Silva, deu as boas vindas e fez a abertura da Assembleia. Antes de recordar os temas que constavam na pauta, ela deu a palavra ao missionário padre Bruno Rocas, missionário peruano, que trabalha no Japão com os imigrantes latino americanos, sobretudo brasileiros. O padre explicou que os imigrantes foram para o Japão por motivos econômicos e a igreja local não tinha condições de os acolher e inserir na comunidade que dispõe de pouquíssimos sacerdotes. Porque se trata de imigrantes, tem que haver coragem de estar começando sempre de zero. Alguns imigrantes já começaram a descobrir a beleza da fé. “Outra dimensão importante da pastoral é a acolhida no país de origem quando retornam à sua diocese e paróquia. Uma questão que diz respeito à identidade dos filhos de imigrantes é que eles ficam meio perdidos porque não sabem se são brasileiros ou japoneses. É necessário trabalhar esse lado da identidade para que não se sintam perdidos”, destacou.
Em seguida Padre José Altevir da Silva (SVD) começou sua colocação sobre a criação de Comidis (Conselho Missionário Diocesano) e Comipas (Conselho Missionário Paroquial), sua necessidade e importância nas dioceses e paróquias, sua base teológica, espiritual e funcionalidade na organização pastoral nas igrejas locais. A base mística fundamental está na motivação que pode ser inspirada na frase de Paulo “fiz-me fraco com os fracos” (1Cor. 9,19). É do sentido de gratidão para com Deus que alguém sente que precisa dar o que recebeu. Quem se sente tocado pelo amor de Deus vai procurar disseminá-lo (cf. Gal 2,20).
Padre Altevir salientou que muitas vezes usamos o termo missão por tudo e por nada, deixando-nos influenciar pelo significado que a propaganda comercial dá a esse termo para indicar a busca de sucesso. Todos são missionários não apenas porque fazem uma atividade missionária qualquer, mas porque se preocupam com a dimensão missionária em todas as pastorais, em todos os grupos. A preocupação maior deve estar voltada para quem ainda está longe de Cristo. Depois de explicar o melhor modo de constituir os Comidis e os Comipas, padre Altevir sublinhou a importância de não se fechar na missão local, mas ficar sempre aberto e ligado com a missão global. A missão local tem que se empenhar na busca dos redutos missionários, divulgar a imprensa missionária, promover a oração, cuidar de todos os níveis, Infância, Juventude etc. Antes de passar para a exposição das metodologias para constituir um grupo de ação missionária, traçar objetivos, estabelecer meios e etapas, foi bem lembrado de que a presença de um pároco no grupo de animação e dedicação é indispensável para que uma ação missionária local seja eficaz e não apenas lugar de generosidade de alguém que encontrou aí um espaço de preferência pessoal. E para terminar o enfoque, foi lembrado de que é necessário estar sempre a caminho como Jesus (Mt 4,22). A missão é um caminho nunca terminado, percorrido por pessoas alegres, corajosas e que despertam atenção e interesse.
O padre Everton Aparecido da Silva, assessor do Comire, apresentou novo regulamento do COMIRE que foi atualizado, aperfeiçoado, pela equipe executiva. O Regulamento foi aprovado por todos os membros da Assembleia e será encaminhando à Presidência do Regional Sul 1 da CNBB.
A última etapa da Assembleia foi o encontro de grupos por sub-regiões para refletir sobre o Instrumento de Trabalho preparado pela executiva para ler, tirar conclusões, trazer propostas de ação para o plenário e partilhar experiências de ação missionária. No plenário foram acolhidas as propostas sobre as quais a equipe executiva irá refletir também em vista do Encontro Missionário do Regional em 2013 em Catanduva nos dias 23, 24 e 25 de agosto.
Texto do Padre Joaquim Gonçalves, Diretor da revista Missões.
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Ações de cidadania refletidas no Seminário da 5a. SSB
O 2º Seminário da 5ª Semana Social Brasileira de 2012, promovido pelo Fórum das Pastorais Sociais do Regional Sul 1 da CNBB nos dias 23 a 25 de novembro no Centro de Convivência “mãe do Bom Conselho” de Jundiaí, SP, refletiu significativas experiências de ações de cidadania em algumas cidades do Estado de São Paulo. Essas experiências criaram expectativas de aplicação em outras cidades ou regiões de São Paulo, promovendo uma verdadeira busca da “Sociedade do Bem Viver”:
Ações de cidadania
O orçamento participativo rural, em Botucatu, cuja gestão é dirigida pelo Conselho formado pela sociedade civil (16 membros representando entidades ligadas ao setor rural) e poder público, formado por representantes de 5 secretarias. Todas as ações só podem ser executadas se aprovadas por esse conselho, aprovado em edital pelo prefeito municipal. Este é o primeiro modelo de gestão participativa rural no Brasil e está sendo mostrado em várias cidades brasileiras.
O serviço social de acolhimento, promoção social e inserção na sociedade de pessoas em situação de rua, realizado em Campinas também foi destacado por ser um modelo diferente de albergue ou casa de recuperação de dependentes químicos. A gestão é feita em conselho, no qual os moradores de rua são também representados.
O grupo da Arquidiocese de São Paulo mostrou o trabalho de conscientização e participação da sociedade no Plano de Ação da prefeitura municipal de São Paulo, no qual as regiões episcopais da arquidiocese foram representadas através de candidatos (a eleição foi realizada neste domingo, 25). É um trabalho participativo, no qual os conselheiros é que definem o que, onde e porque quando à construção de hospitais, vagas em creches etc.
Da diocese de Jundiaí foi apresentado o projeto “Voto Consciente”, fundamentado na experiência da Pastoral Fé e Política da capital, e que trouxe resultados significativos nas eleições municipais das cidades que compõem a diocese de Jundiaí.
De Salto, foi partilhada a experiência da primeira Câmara de Vereadores Virtuais do Brasil, que surgiu após uma experiência de mais de um ano de debate sobre a política municipal de Salto na rede social Facebook. A página, “Debatendo a Política Saltense” conta com mais de 1800 adeptos, dos quais a maioria postam sugestões, críticas ou elogios sobre a política municipal. Essa página gerou a criação da Câmara Virtual, composta de 35 membros (17 titulares, o número de vereadores da Câmara Municipal de Salto, 17 suplentes e um coordenador). São formadas comissões na Câmara Virtual para acompanhar problemas mais urgentes. No momento funcionam: Comissão da Água; Comissão do Trânsito; Comissão da Voz da Comunidade (acompanhando as sociedades amigos de Bairros e entidades); Comissão de Legislação Local e Comissão da Saúde. Cada comissão é composta de até 4 vereadores virtuais e são convidados profissionais da área para assessora. Todo esse trabalho é voluntário. O mandato de cada vereador virtual é de 1 (um) ano.
Os demais trabalhos partilhados estarão expostos no documento final do Seminário da 5ª Semana Social Brasileira do Regional Sul 1.
domingo, 25 de novembro de 2012
Encontro da Pascom discute mídias digitais
Dom Júlio, vigário episcopal da Região Lapa, recordou o Decreto Inter Mirifica. Na foto da esquerda para direita, Ir. Celeste, Dom José, Ir. Élide e Pe. Antonio Aparecido |
O Instituto Pio XI, no alto da Lapa, em São Paulo, acolheu entre os dias 23 a 25 de novembro o 18° Encontro Pastoral da Comunicação (PASCOM) do Regional Sul 1 da CNBB.
Dom Júlio Endi Akamine, vigário episcopal da Região Lapa, Arquidiocese de Sâo Paulo, acolheu os participantes, recordando o Decreto Inter Mirifica sobre os meios de Comunicação Social do Vaticano II. O Bispo representou o cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente do Regional Sul 1, que se encontra em Roma para o Consistório dos Bispos.
Entre as autoridades presentes no encontro participaram: Dom José Moreira de Melo, Bispo Referencial da Pascom; Ir. Élide Fogolari, Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação; Ir. Maria Celeste Ghislandi, fsp, assessora da Pascom e padre. Antonio Aparecido Pereira, vigário da Comunicação da Arquidiocese de São Paulo.
No segundo dia de atividades, pela manhã, a Dra. em comunicação, Carla Schwingel, especialista em Mídias Digitais, apresentou a parte lógica dos compartilhamentos dessas mídias, suas colaborações, estruturas e funcionamentos. A assessora, reforçou a necessidade de “entender a lógica do sistema e o processo de produção nas mídias digitais. Assim, podemos partilhar valores e objetivos em comum na rede social, com leveza”. conclui.
À tarde, ao abordar a temática do encontro, padre Gildásio Mendes, salesiano, de Campo Grande, com especialização e experiência no uso das Mídias digitais na evangelização, expôs experiências bem sucedidas utilizadas nas comunidades e em algumas pastorais. "Muitas possibilidades e desafios, mas juntos conseguimos superar e realizar uma comunicação para anunciar o Evangelho com muita qualidade e propriedade!”, argumentou.
Experiências bem sucedidas
Após a exposição do padre Gildásio, alguns agentes de pastorais presentes também apresentaram algumas experiências positivas como: o Sistema Diocesano de Comunicação, de São José do Rio Preto, Jovens Conectados, Rádio Cantareira, região episcopal Brasilândia e a produção de programas de TV, da diocese de Itapeva.
Para Paulo Giraldi, jornalista e editor chefe da Revista Conversa, os assuntos que foram debatidos nos mostra que temos propostas desafiadoras e realidades desconhecidas. Para ele, cabe a nós, enquanto comunicadores da Igreja, conhecermos esse mundo cibernético. “O mundo digital exige de nós mais ousadia, sair do lugar comum. Para produzir é preciso conhecer, estudar, entender e fazer. A assessora nos mostrou que sem o conhecimento e apropriação não é possível ser Igreja no mundo virtual”.
O encontro reuniu cerca de 80 agentes da pastoral da comunicação das (arqui)dioceses do Regional Sul 1.
Texto de Renato Papis. Foto. Ana Lúcia Zombardi
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
Consciência negra
Por Dom Demétrio Valentini, Bispo de Jales
O dia 20 de novembro é dedicado à “consciência negra”, iniciativa que visa estimular e fortalecer a consciência da identidade própria racial e cultural dos negros no Brasil.
A iniciativa já seria válida pelo número de pessoas que se sentem envolvidas nesta questão. Não é fácil ter estatísticas precisas, justamente numa realidade que está em plena mutação, em boa parte, exatamente, pelo processo em andamento, de identificação racial e cultural.
Mas dá para afirmar que, aproximadamente a metade da população brasileira se assume como possuindo componentes importantes ligados à negritude.
Comparando com dados recolhidos nos sensos anteriores, percebe-se claramente que aumentou muito o contingente de brasileiros que se assumem como negros.
Isto demonstra que a iniciativa de promover a “consciência negra” vem dando bons resultados, sobretudo em termos de superação de preconceitos que a população ainda carrega, seja em referência aos negros, seja também de negros que acabam, de alguma maneira, introjetando o preconceito dentro de si próprios.
O fato é que permanece muito difícil a superação de preconceitos longamente implantados ao longo da história, com o apoio da organização econômica e social, que traduzia o preconceito em medidas de opressão e de exclusão social, econômica e cultural.
A dificuldade em remover a carga de preconceitos que pesam sobre a população negra do Brasil, que ainda carrega as consequências do regime de escravidão, justifica as políticas públicas, que visam acelerar o processo de equiparação completa entre todos os cidadãos brasileiros, independente de raça ou de outros critérios.
Entre estas políticas, está o “sistema de quotas”, que visa garantir uma crescente participação de negros nos cursos universitários. Este sistema encontra uma primeira justificativa diante da grande disparidade existente nas universidades, onde a participação de negros é flagrantemente desproporcional.
Alguns ponderam que este sistema, que pretende superar a discriminação, traz em sim mesmo um viés discriminatório, na medida em que reforçaria o que se quer superar, isto é, ter a raça como referência para políticas públicas.
Acontece que a conveniência destas iniciativas tem presente a realidade concreta, constatada pelas estatísticas, de uma disparidade que, se continuada, perenizaria a desigualdade ora existente.
Mas também é verdade, que se pretendemos que estas políticas sejam eficazes, precisamos admitir que devem ser provisórias. Pois em perspectiva, se elas conseguem o efeito pretendido, levarão a uma situação em que o ideal será a perfeita igualdade de oportunidades, que todos poderiam ter, sem a ajuda de quotas ou de outras medidas que podem valer agora, mas carregam consigo a marca da caducidade.
Bom seria se o Brasil pudesse, de fato, dar ao mundo o precioso testemunho de uma sociedade igualitária, em perfeita convivência de raças diferentes, que prescindirão sempre mais de regulamentação legal para se relacionarem no respeito mútuo e no diálogo fraterno.
O dia 20 de novembro é dedicado à “consciência negra”, iniciativa que visa estimular e fortalecer a consciência da identidade própria racial e cultural dos negros no Brasil.
A iniciativa já seria válida pelo número de pessoas que se sentem envolvidas nesta questão. Não é fácil ter estatísticas precisas, justamente numa realidade que está em plena mutação, em boa parte, exatamente, pelo processo em andamento, de identificação racial e cultural.
Mas dá para afirmar que, aproximadamente a metade da população brasileira se assume como possuindo componentes importantes ligados à negritude.
Comparando com dados recolhidos nos sensos anteriores, percebe-se claramente que aumentou muito o contingente de brasileiros que se assumem como negros.
Isto demonstra que a iniciativa de promover a “consciência negra” vem dando bons resultados, sobretudo em termos de superação de preconceitos que a população ainda carrega, seja em referência aos negros, seja também de negros que acabam, de alguma maneira, introjetando o preconceito dentro de si próprios.
O fato é que permanece muito difícil a superação de preconceitos longamente implantados ao longo da história, com o apoio da organização econômica e social, que traduzia o preconceito em medidas de opressão e de exclusão social, econômica e cultural.
A dificuldade em remover a carga de preconceitos que pesam sobre a população negra do Brasil, que ainda carrega as consequências do regime de escravidão, justifica as políticas públicas, que visam acelerar o processo de equiparação completa entre todos os cidadãos brasileiros, independente de raça ou de outros critérios.
Entre estas políticas, está o “sistema de quotas”, que visa garantir uma crescente participação de negros nos cursos universitários. Este sistema encontra uma primeira justificativa diante da grande disparidade existente nas universidades, onde a participação de negros é flagrantemente desproporcional.
Alguns ponderam que este sistema, que pretende superar a discriminação, traz em sim mesmo um viés discriminatório, na medida em que reforçaria o que se quer superar, isto é, ter a raça como referência para políticas públicas.
Acontece que a conveniência destas iniciativas tem presente a realidade concreta, constatada pelas estatísticas, de uma disparidade que, se continuada, perenizaria a desigualdade ora existente.
Mas também é verdade, que se pretendemos que estas políticas sejam eficazes, precisamos admitir que devem ser provisórias. Pois em perspectiva, se elas conseguem o efeito pretendido, levarão a uma situação em que o ideal será a perfeita igualdade de oportunidades, que todos poderiam ter, sem a ajuda de quotas ou de outras medidas que podem valer agora, mas carregam consigo a marca da caducidade.
Bom seria se o Brasil pudesse, de fato, dar ao mundo o precioso testemunho de uma sociedade igualitária, em perfeita convivência de raças diferentes, que prescindirão sempre mais de regulamentação legal para se relacionarem no respeito mútuo e no diálogo fraterno.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
Diocese de Jaboticabal divulga Nota de falecimento
O Bispo Diocesano de Jaboticabal (SP), Dom Antonio Fernando Brochini divulgou, no fim da manhã desta quarta-feira (14), nota lamentando a morte do bispo emérito, Dom Luiz Eugênio Perez (foto), ocorrido nesta manhã, no Hospital São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto.
N O T A D E F A L E C I M E N T O
“Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em Mim, ainda que morra,
viverá; e todo aquele que vive e crê em Mim nunca morrerá”
Aos Revmos. Srs.
Párocos, Vigários Paroquiais,
Administradores Paroquiais,
Diácono e todo o povo de Deus
da Diocese de Jaboticabal
Queridos presbíteros, amados diocesanos, na certeza da ressurreição, venho através deste, com grande pesar em meu coração, comunicar a todos o falecimento de nosso querido bispo emérito, Dom Luiz Eugênio Perez, ocorrido nesta manhã, no Hospital São Paulo, na cidade de Ribeirão Preto.
Neste momento de dor, mas também de confiança no Senhor, peço a oração de todos em favor de sua alma e também pelos seus familiares.
O corpo de Dom Luiz será velado na Sé Catedral Nossa Senhora do Carmo de Jaboticabal. Amanhã, 15 de novembro, será celebrada missa de corpo presente às 09:00 e em seguida o seu sepultamento na cripta da Sé Catedral.
Dom Antonio Fernando Brochini, SSS
Bispo Diocesano
Bispo Diocesano
Papa nomeia bispo auxiliar para a arquidiocese de Aparecida
A Nunciatura Apostólica informa que o Santo Padre, o papa Bento XVI, atendendo ao pedido do arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Raymundo Damasceno, em contar com um bispo auxiliar, nomeou o atual reitor do Santuário Nacional de Aparecida, padre Darci José Nicioli, bispo auxiliar de Aparecida.
Monsenhor Darci Nicioli é natural de Jacutinga (MG). Fez Teologia no Instituto Teológico São Paulo (SP) e mestrado em Teologia, no Pontifício Ateneo Santo Anselmo, em Roma. Tem ainda, licenciatura em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP).
O novo bispo auxiliar de Aparecida já desempenhou as funções de reitor do Instituto Filosófico Redentorista; professor de Teologia no Instituto Teológico São Paulo e na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Foi ainda superior da Comunidade Religiosa de Campinas; Superior da Casa Geral dos Missionários Redentoristas, em Roma; Superior e Reitor do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida (2009-2013) e vigário provincial da Província Redentorista de São Paulo (2010-2014), entre outros.
Mensagem do arcebispo de Aparecida
Atendendo ao nosso pedido, para satisfazer melhor as necessidades pastorais da Arquidiocese, o Santo Padre Bento XVI concedeu-nos, benignamente, um bispo auxiliar na pessoa do Revmo. padre Darci José Nicioli, CSsR, atual Reitor do Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida.
Como colaborador do bispo diocesano, o bispo auxiliar exerce o múnus episcopal como serviço a toda a diocese. É um irmão que colabora e caminha lado a lado com o bispo diocesano na missão de pastor, de servidor, a exemplo de Jesus, o Bom Pastor, que veio para servir e não para ser servido.
São mãos que se unem para a promoção do bem do Povo de Deus e da Igreja de Cristo. O bispo auxiliar é chamado a participar da solicitude do bispo diocesano e a desempenhar seu múnus em harmonia com ele em trabalho e espírito. Ele presta um serviço à Igreja presente no território da diocese, ao colocar-se ao lado do bispo diocesano, e ao trabalhar com ele em unidade, respeito e total comunhão. Cabe a ele exercer seu episcopado abraçando com amor e dedicação a caminhada e a vida da Igreja local. Como todo ofício e múnus exercido na Igreja de Cristo, o bispo auxiliar como sucessor dos Apóstolos, participa da missão salvífica confiada à Igreja pelo próprio Salvador.
Agradecemos, de coração, ao Sumo Pontífice pela acolhida ao nosso pedido. Ao padre Darci José Nicioli, que já exerceu a função de ecônomo do Santuário Nacional e hoje é seu Reitor, nossos cumprimentos pela sua disponibilidade a serviço do Reino e as nossas mais fraternas boas-vindas ao colégio episcopal, à CNBB, e à arquidiocese de Aparecida, como bispo auxiliar. O Espírito Santo o ilumine e o fortaleça no seu ministério episcopal e a Virgem da Conceição Aparecida, sob cujo manto inicia sua nova missão, o proteja sempre.
Aparecida, 14 de novembro de 2012.
Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP
Presidente da CNBB
Fonte: Site da CNBB
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